E estando de volta ao trabalho, impossível não me sensibilizar com os dramas que permeiam o ambiente.
Sra. H. iniciou uma série de atividades físicas com o propósito de eliminar algumas gorduras localizadas que, por volta dos trinta anos de idade, assombram qualquer mulher. Ela está profundamente determinada a retomar a forma física como fez a perfeitíssima Sra. Adriane Galisteu, que exibe na Playboy uma barriga saradíssima, bronzeadíssima e, provavelmente, fotoshopadíssima, pouco tempo após deixar de estar gravidíssima.
Na academia a professora, que é considerada pela ala masculina "uma máquina", fez a avaliação da Sra. H. com a finalidade de definir o treinamento mais adequado para atingir este nobre objetivo comum a 9 entre 10 mulheres que não acreditam em sumiço de colágeno, em fuga desenfreada de radicais livres e na força da gravidade. Mas abandonando os moinhos que giram para trás, sigamos à questão gramático-filosofal que se apresenta:
Pois essa "máquina" (devo lembrar que o trabalho dela consiste em ficar oito ou mais horas malhando) falou que a Sra. H. está sequinha. Sra. H. enfureceu. Não estaria se submetendo a estas torturas se estivesse sequinha.
E aí vem o verbo. Sequinha comparada com o quê? Com a maioria das alunas que frequentam a academia? Comparada com a própria professora? Com a Wilza Carla (que Deus a tenha)?
Comparar vem do latim comparare, com, junto, mais parare, fazer par. Comparar então significa colocar ao lado, fazer par, juntar dois iguais, dois parelhos, para observar, examinar simultaneamente, a fim de conhecer as semelhanças, as diferenças ou as relações. O ato de comparar implica, então, em primeiro lugar, a reunião de elementos suscetíveis de comparação.
Minha colega, a Sra. H., sem querer puxar a sardinha para o braseiro dela, parece estar, em um primeiro momento, corretíssima no seu entendimento. Está comparando seu corpicho atual com aquele que tinha há alguns anos. E essa é, aparentemente, a única comparação possível. E não só fisicamente. Não posso dizer que fulano é melhor que beltrano. Eles são diferentes. E isso, por si só, já impede a comparação. Se não é possível fazer par, não dá para comparar. E se Wilza e Sra. H. são diferentes, não há como comparar.
Pensando bem, não sou mais quem eu era há dez anos. Nem quem eu era no mês passado. Mudei. Nem comigo mesmo conseguiria me comparar. Ah! Mas minha barriga aos dezoito era saradona. E agora é safadona (essa foi medíocre!!). Mas minha capacidade de discernimento, meu grau de tolerância, minha ansiedade... pois é, tudo isso também mudou. Metade de mim dispara acelerada morro abaixo e metade evolui inexoravelmente. Dá para comparar eu de ontem com eu de hoje? Há iguais para emparelhar? Há não.
Lamento, Sra. H. mas é gramatical e filosoficamente impossível comparar quem a senhora foi ontem com quem a senhora transformou-se.
E antes que venha afirmar que é só o pneuzinho que é objeto de comparação, vou lembrando que a vida só existe no período A.J. (antes de Jack). A senhora (e todos ) só existe inteira. Na hora em que Jack disser: Vamos por partes! danou-se!!
3 comentários:
Show de bola o blog hein!
Adorei este texto, mas fiquei com uma dúvida: Quem será a Sra. H?
eu conheço a Sra H.....figura!!
Nossa, a Sra. H ainda está no "Projeto Adriane Galisteu"? Pensei que já havia passado para um outro propósito que igualmente assoma várias mulheres por volta dos trinta (ao menos aquelas com pendores maternais)... Amanhã passarei por aí para manifestar minhas opiniões pessoalmente e aproveitar para desopilar um pouco.
Outra Sra. H
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