domingo, 17 de março de 2013

O Substituto

Adrien Brody. Aquele narigudo compridão do ótimo O Pianista, do Roman Polanski. É ele quem vive o protagonista de O Substituto.

Para algumas pessoas um filme chato. Para quem teve uma mínima experiência como docente em escola pública (meu caso), tocante. Para quem é professor, imagino que traduza muitos sentimentos comuns.

"Nunca me senti tão profundamente, em um único e mesmo momento, tão separado de mim mesmo e tão presente no mundo". O filme começa com essa frase de Albert Camus.

Eu, que sempre tive a impressão de não participar muito ativamente daquilo a que se chama senso comum, amei. Sempre que quis ficar igual aos outros acabava inevitavelmente ficando diferente de eu mesmo. E por vezes achei que todos eram felizes com os papéis que lhes cabiam. Assim, por simples e direta constatação, o erro estava em mim. Para estar presente no mundo, só sendo um outro.

Pois bem. Na relação desse professor substituto, e de seus colegas, com alunos sem perspectiva, que nem mais perseguem ideais que improvavelmente conseguiriam alcançar, está espelhada a realidade de quase todas as escolas. De quase todos os jovens.

Para as escolas, sejam elas publicas ou particulares, será que lidar com essa gurizada cabeça oca está fácil? Esse bombardeio de estímulos de consumo e de repressão ao pensamento autônomo nunca aconteceu dessa forma tão constante. Concordo que é um processo que vem tomando forma há mais tempo. De endemia a epidemia. Mas agora é uma pandemia. Será que há como não sucumbir à desesperança? 

Querem ser iguais, não conseguem, se revoltam, mas não buscam mudar as coisas. Por incapazes. Não aprenderam a criar. Se não podem imitar, sofrem. A luzinha ínfima com a qual o professor alumia (sim, essa palavra existe) o tunelzão de incertezas que eles vivem, passa despercebida.

Fosse eu, deixaria a peteca cair. Talvez entrasse em depressão ou em uma clínica para loucos perigosos. Quanto aos professores que conheço, acho que um ou dois enfrentariam bravamente o dragão. Pois, lecionando há anos, permaneceram completamente imunes à insanidade e, pasmem,  felizes. Esses tem a real vocação. E sua lanterninha vira um holofote no caminho dos seus alunos. 

Mas não só isso me atraiu nessa historinha. Também o modo como o protagonista evita aprofundar os laços com quem quer que seja, é muito, digamos assim, familiar...

Olha, é esquisito. Não que eu tenha achado um filmaço, mas... mexeu com umas coisinhas que eu nem lembrava mais o quanto me angustiavam. Meio chatão, mas eu recomendo. 

Um comentário:

Outra Sra. (Posso voltar a usar srta.?) H disse...

E como diria Ruben:
"Era uma vez, vejam vocês, um passarinho feio, que não sabia o que era, nem de onde veio. Então vivia, vivia a sonhar em ser o que não era, voando, voando com as asas, asas da quimera"
Voltou a escrever e nem avisou.