sábado, 26 de junho de 2010

De molho

Cama. E só. Durante os últimos dez longos dias este tem sido meu destino. Dez enlouquecedores dias. Que parecem se arrastar. Uma virose (o que mais?) me tirou de circulação. Mais do que isso. Acabou comigo. Tudo começou com uma febre alta na quinta de noite (a outra quinta). Na sexta estava mole, a febre continuava, tomei Tylenol, Novalgina... nada de a febre ceder. Fiquei de molho durante o final de semana todo. Na segunda trabalhei só por teimosia e decidi ir a um médico. Mas de que especialidade, se a não ser pela febre não havia outros sintomas? Sim, doía cada fio de cabelo, mas só quando eu passava a mão e a sensação de atropelamento era em virtude da febre... bem, me doía um pouco atrás da orelha. Assim escolhi um otorrino, que podia me atender ainda naquele dia, o que era essencial.

Fui atendida rapidamente, ou melhor, colocada para dentro do consultório rapidamente, pois o médico estava ao celular com um amigo com quem colocou as fofocas em dia enquanto eu esperava. Pela conversa depreendi que o tal amigo tinha se engasgado - sim, isso mesmo - recentemente em um restaurante e só não morreu porque um colega fez uma manobra e espremeu o cara até que ele cuspisse o alimento entalado. Uns cinco minutos depois o médico desligou e não pediu desculpas. Apenas confirmou que era um amigo que tinha se engasgado... Ah! Tá.

Contei rapidamente meus sintomas, ele deu uma olhada na minha garganta, apertou atrás das minhas orelhas e olhou meus olhos, que estavam vermelhíssimos. Eu falei: Viu meus olhos? E ele: Sim, lindíssimos! (Onde é que eu fui amarrar meu burro?) Então ele fala que provavelmente seja uma virose mas quer um hemograma, um raio X de face e um de tórax, para se assegurar de que não é nada mais grave. Mas ele não me entrega rapidamente as requisições e a receita de um medicamento para aliviar os sintomas. Não. Antes eu tenho que escutar um resumo da vida do cara, onde ele se pós-graduou, seu hobby culinário, onde ele compra carne, o tamanho do seu freezer, quantas filhas e quantos empregados ele tem, tudo é claro, tão relevante para meu tratamento quanto o episódio de salvamento do seu amigo glutão.

Normalmente gosto de jogar conversa fora. E reconheço que o cara além de bonitinho até é bom de papo. Então a teoria da relatividade faz sentido. Quando a gente não está bem, a úlitma coisa que interessa é fazer novas amizades. Ficamos absolutamente autocentrados e quaisquer coisas que não digam respeito a nós mesmos e nossa cura são totalmente supérfluas e desprovidas de interesse. Desta forma tudo o que quero é comprar algo que faça eu me sentir melhor. Compro o tal pozinho que ele me receitou e estou tão desagradavelmente mal que nem percebo que o troço tem sabor de menta-aniz. Havia outras opções, conforme li na bula depois. Mas o Spidufen 600 não trouxe o alívio imediato com o qual eu sonhava.

Na manhã do dia seguinte, ainda febril, vou a uma clínica pneumológica para fazer os exames. Não tenho pnueumonia, nem sinusite, nem infecção. É uma virose mesmo e esse outro médico barbudo me receita mais Tylenol e um antibiótico novo que eu compro e, ao ler a bula gigantesca, descubro que serve para tratar pneumonia bacteriana - que eu não tenho - e que não serve para tratar virose - que eu tenho. Decido tomar, mesmo asim, tão mal estou me sentindo, e resolvo não questionar as razões do segundo médico.

Dois dias depois a febre não havia baixado e eu não conseguia mais comer nada, tamanho o enjôo que eu sentia. Para agravar o quadro, tive um dos mil e trocentos efeitos colatereis previstos na bula: urticária nas palmas das mãos e pés, que ficaram vermelhíssimos e coçando muuuuuuuuuuuito.

Resumo da opereta: parei com todos os medicamentos e decidi morrer lentamente, de forma natural, de febre, fome e sede, já que até o gosto da água me provocava náuseas. Ao final do oitavo dia constatei que ainda não deveria ser minha hora, pois a febre cedeu, as mãos desincharam, consegui comer dois palitinhos com sal.

E aqui estou eu. Sobrevivi. Minha cabeça ainda está meio flutuante, mas já consigo ler e escrever. As articulações dóem mas acho que a virose está superada. Amo minha casa e amo o ócio, mas voltar ao trabalho nunca me pareceu tão convidativo.

Aos leitores que não desistiram de mim, aguardem. Nestor está de volta!

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