quarta-feira, 8 de agosto de 2012

Bonequinha de Luxo

Assisti ontem Bonequinha de Luxo, um filme de 1961, dirigido por Blake Edwards, e protagonizado por Audrey Hapburn, que considero o modelo de beleza feminina. Esbelta, chique, linda!

Mas, embora recomende ver ou rever, não é sobre a película que vou falar. É sobre minhas cadelas. Estou agora compartilhando o sofá do escritório com ambas. Senhorita Cléo enrolada sobre uma almofada de seda, é a própria bonequinha de luxo. Magrinha, delicada, cheia de frescuras cadelísticas. Já senhorita Victória esticada sem o menor glamur, respirando pesadamente, exalando uma cadelagem sem qualquer estirpe.

São da mesma raça, têm praticamente o mesmo peso, mas antagonizam absolutamente no quesito estilo. Que Audrey Hapburn tem de sobra, como Cléo. Um certo ar blazé, de quem sabe o que quer, de quem sabe quem é. Não abana o rabo para qualquer um (Cléo, não Audrey). Não é simpática. Não vai com todo mundo. Não se vende por comida. Um gênio de cão!

As pessoas, de modo geral, tendem a gostar mais de Vicky, que é de uma alegria contagiante. Implicam com a bonequinha distante e arredia...

Quando percebo que alguém faz festinha só para a cachorra que tem comportamento canino (previsivelmente canino ou caninamente previsível), lembro da frase de um sujeito,  por quem nutro algum respeito e que, posso afirmar com absoluta convicção, não é um psicopata:


"Sim, socialmente desajustado. Agora posso dizer isso sem sofrer. Pelo menos sem sofrer muito. Até uns quarenta e seis anos atrás eu sabia que era diferente e tudo o que eu mais queria era ser igual. Permaneço reconhecendo minha estranheza, mas já não resisto. Aceito que penso e sinto de um jeito socialmente reprovável."

Cleozinha é um pouco assim. Tem um jeito socialmente reprovável. Socialmente desajustado. Mas ela não sofre. Tampouco sofreu alguma vez ou quis ser igual.  Hoje eu  amo esta singularidade. Mas logo que ela chegou, quem sofria era eu! Cheguei a pensar que havia errado alguma coisa na educação dela! Tudo o que eu mais desejava era que ela fosse uma cadela igual a todas:  "normal", básica, previsível,  como uma cachorra  padrão deve ser.

Por isso entendo que é bem difícil amar assim, de cara, quem não está dentro dos nossos parâmetros de aceitabilidade. Criamos uns limites e uns enquadramentos bobos, baseados naquilo que é mais... comum. Saiu fora do comportamento padrão e tchum! Erguemos uma barreira. Gente entranha, com jeito esquisito. Sem chance de comunicação. Sem possibilidade de afeto.

 A bonequinha de luxo do filme era uma garota de programa. Mas linda, elegante e socialmente ajustada. Tinha um comportamento reprovável? Talvez. Mas se enquadrava a determinados padrões vigentes naquela época. Então era fácil gostar dela.

Mas quem foi que disse que é um problema ser socialmente desajustado? Será que como acontece com Cleozinha, não seja justamente este o grande diferencial??

Nenhum comentário: