quarta-feira, 5 de maio de 2010

Cadeirante

Olá, cadeirante! Sim, tenho certeza de que todos os que estão lendo este texto já foram, ou ainda são, cadeirantes. Ou você nunca teve o desprazer de passar horas e horas colocando seu derrière em contato imediato de primeiríssimo grau com uma cadeira xexelenta de um consultório médico?

Pois é. Recentemente instalei um braço biônico e tive esta experiência mística de compartilhar um espaço pessimamente decorado com uma dúzia, ou mais, de seres aparentemente adaptados com este despropósito absurdo, que é ficar horas aguardando o supremo, fantástico, iluminado ortopedista. Falo ortopedista mas os médicos de todas as outras especialidades também gozam desta faculdade de fazer os demais simples mortais perderem seu tempo sem valor. Aliás, a palavra gozam está a parecer apropriadíssima para a situação. Só pode ser gozação com os pacientes. E agora entendo a palavra paciente. Vem de paciência. Santíssima paciência.

Prosseguindo: enquanto paciente, pacientíssimo, por sinal, observei os diversos centros de tortura pelos quais passei recentemente, o consultório do ortopedista e o do cardiologista. Colhi e comparei informações com cadeirantes recentes e a conclusão é que a maioria dos consultórios tem cadeiras dispostas como um cinema, ou um teatro, voltadas para um aparelho de TV ligado em algum canal de segunda categoria, com imagens meio desfocadas e volume altíssimo. Um aparador ou mesa com aquelas bombonas de água (que vem sabe-se lá de onde) e uma térmica de café. Copos descartáveis, uma lixeira daquelas que os copos cabem em um buraco grande ou pequeno, conforme água ou cafezinho, e vão ficando empilhados. Uma mesa com revistas de dois anos atrás folhadíssimas, aparentemente vetores dos mais diversos tipos de doenças, micoses, perebas em geral. O jornal do dia, que talvez de manhã tivesse forma e aparência de jornal. Ar condicionado gélido (ou frio de renguear cusco), provavelmente porque pessoas congeladas tendem a não se mover, não falar, e assim não reclamam. Umas secretárias meio pamonhas, que não se importam de trabalhar com aquela ruma de gente criando mofo ali na frente e que vem sem a tecla "penso" (as secretárias) pois são incapazes de organizar minimamente uma agenda. Ora, se o ocupadíssimo, importantíssimo e aguardadíssimo senhor dos ossos chega às 10 horas da manhã, porque é que a anta fala "é ordem de chegada, abrimos às sete"?

Cumé? O otário que não tem mais nada que fazer na vida precisa fincar a b... na cadeira três horas antes da criatura suprema chegar??? O panaca vai às sete para não ficar na fila? É isso? Será que aquele troço chamado agenda não fez parte da vida pregressa do curandeiro? Bem, inteligência rara, se eu consigo atender quatro bocós por hora, e vou trabalhar oito horas, vejamos... quatro vezes oito... trinta e dois pacientes. É um montão de gente. Ôba, então vou deixar todos eles furiosos ao mesmo tempo. Porque eu falaria para cada um vir em um horário diferente? Coisa complicada.

Creio que gastaram todos os seus neurônios na faculdade, estudando anatomia, farmacologia, 'medicologia'... faltou espaço para 'agendologia'. 'Respeitologia'. 'Horariologia'. Não consigo conceber que qualquer pessoa ache o tempo de outra tão desimportante assim. Que despreze o trabalho que ela exerce e que tem que deixar de lado para se dedicar a 'cadeiropatia' involuntária.

Perder tempo no consultório médico não é divertido. É horrível. É um saco. E é, sobretudo, desnecessário. Minha dentista é considerada uma general por ser rigorosíssima com os horários. Atrasou dez minutos? Ela não atende mais. Vai prejudicar o atendimento do paciente do horário seguinte. Certa ela. Por via das dúvidas, chego sempre um pouco mais cedo. Cadeirante voluntária. Aí eu gosto.

Um comentário:

Aline Limont disse...

Achei teu comentário certo, e se todas as pessoas reclamassem talvés as atitudes dos médicos e demais profissionais da saúde melhorassem, marcando e respeitando os horários dos "simples mortais". Beijos Al