domingo, 29 de agosto de 2010

A ética do xixi

Terminei meu último post falando em dilemas éticos. Pois bem, para abordar esta questão, temos que antes nivelar um conceito que era polêmico até entre os filósofos gregos, lá no tempo de Platão, Aristóteles, Epicuro...

Acho mais fácil dizer o que não é ética: não é lei e não é moral. É outra coisa, que anda bem pertinho de ambas o que, em alguns casos, pode levar a uma compreensível confusão.

Leis são feitas por homens, com o explícito propósito de organizar a vida em sociedade. Leis significam que escreveu não leu... E elas mudam. Porque a sociedade evolui, porque mudam as necessidades humanas, porque mudam os interesses de quem as faz. Até ontem casamento era para sempre. Hoje é um contrato facílimo de desfazer (estou falando no aspecto legal, claro).

A moral é mais ampla do que a lei. Também é um conjunto de regras de convivência, só que ditadas pelos costumes e que em tese, repito, em tese, não vem de fora. É imposta por um dever de consciência e não pode ser cobrada por ninguém. Estas regras também mudam, porque a sociedade evolui, porque mudam as necessidades humanas, porque mudam os interesses daqueles que detém de alguma forma o poder de inculcar nas mentes dos seus semelhentes, os conceitos de certo e errado a exemplo das igrejas. O sexo por prazer não é proibido por lei mas para alguns indivíduos não é moralmente permitido (pobres deles). Dá para ver que a moral, assim como a lei, é para quem não pensa. Não reflete. Só executa.

A ética está um degrau acima. É para quem pensa. Ser ético ou agir com ética exige reflexão. Também tem a ver com a vida em sociedade. Mas quem não agir de forma ética não vai, necessáriamente preso ou para o inferno. Aliás, viver sem ética pode até ser bem vantajoso.

Não preciso dizer que estes conceitos estão resumidíssimos, mas não vou me estender pois vou acabar falando besteira. Os especialistas de plantão (e sei que há pelo menos um entre meus leitores) que me corrijam se o caso a seguir relatado não é uma fiel demonstração de ética:

Na empresa onde trabalho, há um banheiro mais reservado, lá no cantinho, onde há um único vaso sanitário. Noutro dia estava quase tocando a maçaneta da porta quando ela se abriu. Saiu de lá minha colega, S.. Trocamos amabilidades e entrei. Como todos sabemos, as mulheres, quando vão ao banheiro, seja qual das duas atividades decidam realizar, ao final usam sempre papel higiênico. Fato. Conclui e olhei para o nicho do papel e lá estava um rolo. Novinho. Intacto. Com aquela colinha que demonstra tratar-se de um rolo virgem. Que lindo! A prova de que S. usara o rolo anterior até o final e, ao invés de deixar aquele cilindro de papelão como armadilha para o próximo usuário, repusera o papel. A ética do xixi. Quiçá do cocô. Provavelmente nunca saberemos. Mas ética. Nenhuma lei a obrigava a fazer isso. Tampouco uma moral judaico-cristã a faria temer arder eternamente ao lado do também S.. Aquele foi um comportamento ético.

E a ética pode mudar de um momento para o outro? De um grupo social para outro? Claro que sim! Porque a sociedade muda, porque as necessidades humanas mudam, mas não porque uns políticos escasquetaram de penalizar ou descriminalizar determinado comportamento, nem porque os padres,pastores, bispos e o escambau tem novas necessidades financeiras ou de poder.

Para estar sempre eticamente em dia, acho que a melhor forma é agir com os outros como gostaríamos que os outros agissem conosco. Isso funciona independente do credo, cor, extrato social: Eu gostaria de descobrir, ao fim de tudo, que não tem papel higiênico? Não! Isso nunca!! Então vou colocar um rolo novinho para quem chegar!

E agir sempre de forma ética é bom? Vejamos... bom para quem? Aí já é outra história.
Mas e o dilema ético? Esqueci! Fica para a próxima.

Nenhum comentário: