sábado, 21 de agosto de 2010

A invenção da mentira

Assisti ontem a um filme com o seguinte título em português: O primeiro mentiroso. O argumento é muito interessante. Em um mundo onde não existe ainda a mentira, onde todos confiam em tudo o que é dito por qualquer um, uma pessoa fala uma coisa (como ele inicialmente define, já que não exise a palavra mentira) que não é.

Mentira é mesmo isso: falar uma coisa que não é.

E é hilária a forma trágica como as pessoas dizem as coisas mais verdadeiramente horríveis umas para as outras, e ninguém se magoa, pois sabe que não é maldade, é apenas verdade.

Na nossa sociedade seria impensável a bonitona que abre a porta para o gordinho, com quem marcou um jantar, dizer: Fiquei muito desapontada com a sua aparência! Ou a colega de trabalho, ao ver a foto do filhinho da outra dizer: Mas como ele é feinho! E essas orelhas de abano! Que triste. A verdade é que provavelmente elas pensariam isso. Mas jamais ousariam cometer tais grosserias. A verdade traz consigo uma dureza que pode machucar.

O filme apresenta situações muito comuns no dia-a-dia e é impossível não se identificar com algumas.

Mas o mais interessante é quando ele aborda o cinema. Não tinha ainda pensado, mas o cinema é mentira por excelência. E a literatura também. De modo geral, todos os romances, livros, filmes, falam de algo que, como diria o protagonista, não é. São histórias inventadas. Ficção. Coisas que não existem. Claro, temos os documentários, que falam de coisas que são. E que normalmente provocam algum tipo de desconforto, justamente por esfregarem de forma desagradável a realidade no nosso nariz.

Tive um colega na faculdade de Direito, o Homero, que se recusava a ir ao cinema porque era levado, dizia ele, a se emocionar com uma coisa que não era real. Sofria ou se alegrava por um motivo inventado. E se recusava a tristeza ou felicidade que não fossem autênticas. Eu achava aquilo o ò. Cara mais esquisito! Justamente o bom do cinema é isso, experimentar emoções alheias.

Na terra do filme em questão, cinema se resumia a contar da melhor forma possível, a história da civilização. O que realmente aconteceu um dia. E nada de algo baseado em fatos reais. Não. Sem mentir, só dá para falar dos realíssimos fatos. Coisa mais sem graça.

Entre outros aspectos, também fala de Deus, das crenças. Como acreditar em uma vida após a morte se não dá para inventar nada? Se ninguém cogita, se ninguém duvida, se ninguém questiona?

Enfim, vale a pena conferir. E depois fazer uma pequena discussão que, na falta de um parceiro cinéfilo, pode ser até mesmo entre o Tico e o Teco: em um mundo sem mentira, seríamos mais felizes?

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