Não, não vou falar hoje de nenhum filme. O que não significa o afastamento completo dos dramas e comédias, por inerentes à vida. Falarei de julgamentos. Sim. Daqueles a que eventualmente somos submetidos, queiramos ou não.
Quando alguém está nos julgando sem que saibamos, e isso ocorre com mais frequência do que imaginamos, não há grandes dramas a administrar. Normalmente quem nos julga assim são aquelas pessoas a quem não damos a mínima importância. Então é mais fácil (e inteligente) relevar. Não dar bola. Simples assim. Gostou? Ótimo! Não gostou? Vai te catar!
Entretanto há julgamentos a que nós próprios, de forma espontânea, nos submetemos. E aí o veredicto é importantíssimo. Exemplos: exame vestibular, entrevistas de emprego, apresentação à mãe do fulano com quem estamos saindo... E aí vem a ansiedade de saber: fui aprovado? Demonstrei tudo o que eu sei? Agradei?
Via de regra, e a isso alguns chamam de Lei de Murphy, basta nos colocarmos sob o foco e puf, lá vai besteira. Cai na prova bem aquilo que estudamos e na hora de responder a questão não percebemos que o enunciado falava para assinalar a alternativa "incorreta". E tacamos um baita xis na letra A. Tá certa! Dããã. Mas a C, a D e a E também estavam certas, banana! Ou então à pergunta sobre nosso desempenho no último emprego, omitimos o fato de ter trabalhado por três, no último ano, conseguindo atingir às metas propostas mesmo sem uma estrutura adequada. Panaca! E ainda arrematamos falando que inúmeras ações planejadas não foram implementadas por falta de pessoal. Bocó! Falar do que não fez? De boas intençôes o inferno está cheio, já dizia Satanás. Mas nada pode ser pior do que comentar, no jantar da futura sogra, que acha o fim da picada uma mulher não saber dirigir, e descobrir, no minuto seguinte, que ela nunca quis aprender... Mereço, né?
Julgamentos também implicam comparações. Acertei mais questões do que os outros? Fui mais brilhante do que os demais candidatos à vaga? Causei melhor impressão do que todos os ex juntos? É esperar para ver. E, se ser julgado dá arrepios, o que dizer da espera pelo resultado? Passei? Fui o escolhido? Essa senhora possessiva e intransigente (sogras sempre são assim) está me odiando? Vai me tolerar, algum dia? Será que ela gostava mais do ex dele do que de mim? Como parecem ser longos e angustiantes os momentos que antecedem o resultado de qualquer julgamento, quando estamos aguardando a frase que poderá nos levar às alturas ou ao chão: E o Oscar vai para....
Li há algum tempo um livro chamado "De Bagdá, com amor". Foi escrito por um soldado (talvez ele tenha alguma patente, não lembro) descrevendo a forma como os fuzileiros navais adotaram um filhotinho de cachorro (Lava) durante a guerra do Iraque, do dia-a-dia no acampamento e da forma como conseguiram enviá-lo, em segurança, para os Estados Unidos. Numa certa altura da história, ele relata a angustiante espera de informações sobre a situação de Lava, que era delicada e que envolvia a boa vontade de inúmeras pessoas. Essa espera sem saber se ele estava bem, se ele conseguiria atravessar as fronteiras, era horrível.
Ele fala, de uma maneira envolvente que nunca consegui esquecer, que toda a aflição se resume a uma espera. Que medo não tem nada a ver com a dor, com a condenação eterna ou com a suspensão da existência. O medo é o que fica entre uma situação e outra, entre um momento em que tudo está bem e o momento em que algo que o preocupou a vida inteira pode acontecer. O medo é toda a espera. E fala que talvez seja isso o que move os homens-bomba. Eles simplemente se cansam de esperar por uma morte anunciada, que tarda para chegar. E puxam o gatilho acabando com a expectativa.
Pelo sim, pelo não, enquanto aguardo o resultado de um julgamento qualquer, procuro ficar longe de explosivos!
Nenhum comentário:
Postar um comentário