domingo, 27 de fevereiro de 2011

Do ninho à toca

Por mais que eu faça, nada muda a disposição destas rolinhas de habitarem meu pátio. Reconheço que se fosse uma dessas mini-pombas, também ficaria tentado a residir em um quintal florido, com diversas varandas e sem gatos (meus cachorros são essenciais na manutenção deste quesito).

No mês passado, durante a poda quinzenal das buganvíleas, tive que dar outra ajuda à natureza. Um casal de rolinhas fez um ninho tão pequeno e instável que eu quase não vi. Por pouco não derrubo aquele amontoado mal feito de palhinhas com dois diminutos ovos dentro. Um vento mais forte e os gêmeos voariam do ninho antes mesmo de sair dos ovos! Quando vi aquela situação precária, fixei o minúsculo ninho com pequenos galhos de buganvílea em forma de forquilha e subi um pouco as laterais com cipós de jibóia. Felizmente estas duas vidinhas foram preservadas e eles alçaram vôo no tempo certo, deixando a mini-casa para trás.

Ninho! Todos um dia tivemos um ninho. Grande ou pequeno, só nosso ou dividido com um ou um montão de gente, mas um ninho. Um lugar para começar. A isso chamamos de ninho. Ninho não é algo definitivo. Um dia será deixado para trás. Como para essas rolinhas. Os pais fazem de tudo por elas. Passam dias chocando os ovos, depois dando calor, afeto e comida. Em seguida dão as primeiras aulas de vôo e de como dormir em um galho, fora do ninho. Esses ensinamentos eu posso assistir de camarote. Imagino que depois eles também ensinem aos pimpolhos como obter comida. E é só. As rolinhas já estão prontas para o mundo! Assim também conosco. Uns mais cedo, outros mais tarde, acabamos todos deixando o ninho, como deve ser. Não é confortável, esse abandono, mas é definitivo.

Mas conosco acontece algo menos selvagem. Nosso desejo de liberdade é bem mais ameno. Saímos da casa dos pais, mas a lembrança do ninho pulsa forte para a maioria de nós. Sentimos falta da segurança e do conforto de um canto só nosso. Todavia voltar ao ninho é radical demais. Assim iniciamos a busca por um lugar com a nossa cara, com o nosso cheiro, com as nossas coisas. Queremos um lugar para voltar. Um lugar que não precisemos abandonar. Uma toca.

Poucas pessoas que eu conheço tem alma nômade e despreendida. Elas andam livres, leves e soltas pelo mundo afora. Habitam aqui e ali como barcos que ancoram em um e outro cais. Invejo-as? Não mais. Gosto de voltar no final do dia para a minha toca e repousar em silêncio e segurança. Minha toca é o lugar onde gosto de estar. Lembram daquela música?

Eu quero uma casa no campo
Onde eu possa ficar no tamanho da paz
Onde eu possa plantar meus amigos
Meus discos, meus livros, e nada mais.

Ele quer uma toca!

Lá na chácara tem um quadro com a seguinte frase bordada em ponto de cruz: Lar é onde o coração está. Meu coração está um pouco no meu ninho e um pouco na minha toca.

Vou mandar bordar em ponto de cruz: Lar é ninho. Lar é toca.


Um comentário:

Bel disse...

Preciso dormir...mas tenho muito ainda para ler... até março/2010.

Quem sabe uma evolução - do ninho à toca.
Reflexão. Feliz pelo ninho e pela toca.
bjs
bel