segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

Faces

Assiti ao filme "A Rede Social" que conta o surgimento do Facebook. Gostei. Achei bem dirigido. Talvez eu deva esclarecer que na minha concepção uma boa direção significa fazer com que eu permaneça interessado no filme durante toda a sua duração. Talvez essa não seja a mais clássica definição, mas...

E também considero um bom filme aquele que no outro dia ainda está sofrendo algum tipo de processamento, aquele que rende reflexões e questionamentos. Esse rendeu. Hoje fiquei pensando em quantos amigos, assim como eu, fazem parte do Facebook. Assim como eu? Bem, eu apenas estou lá, para, eventualmente, ser encontrado. Mas tenho amigos que realmente se envolvem nisso. Devem passar horas na frente do computador, a julgar pela montoeira de coisas que publicam em seus murais e páginas pessoais.

Há algum tempo eu pensaria que isso é bem coisa de jovens americanos, com dificuladades de relacionamento, que vivem sob uma forte pressão social, que tenta encaixar todo mundo em alguma forma pré-definida. Então eles preferem fazer amigos de forma virtual, evitando as agruras da vida real.

Não mais. Hoje parece que todo mundo ficou desse jeito. Vejo pessoas da idade da pedra (a minha) que também entraram nessa neurose coletiva de ter que mostrar ao mundo cada coisinha que viram, fizeram, ouviram dizer... A gurizada agora se comporta como os japoneses viajantes de outrora (lembram?) que fotografavam tudo o que viam. Click, click, click... Eu, sempre que cruzava com um grupo de japoneses, ficava pensando se eles conseguiam aproveitar a viagem ou se só conheceriam os países que estavam visitando depois, em casa, quando revelassem as fotos.

Agora em qualquer lugar é assim: nas festas, nos restaurantes, nos shows, na rua. Foto, foto, foto, pose, sorriso, biquinho, ombros, foto, foto, foto. E a festa? Está boa? Não sei, ainda! Deixa antes eu botar as fotos no Face.

E quando não é a foto, é a música que escutou, é o vídeo do You Tube, é a frase do fulando que curtiu... Mas, dirão, e não é o que se faz com os amigos? A gente não conversa com eles sobre todas essas coisas? Sim, claro que sim, mas com mil quinhentos e vinte e três amigos?????? E lá vem musiquinha pela frente e, preparem-se, essa é beeeem velha:

Eu quero ter um milhão de amigos
E bem mais forte poder cantar

Erasmo e Roberto agora podem ter! Nem eles imaginavam que um dia um milhão de amigos iriam estar ali, à mão, facinho, facinho!

O que eu questiono é esse desejo incontido de se mostrar ao mundo. Fui para o nordeste, fui para o sul, fui para a Europa, olha a minha foto de biquini em Arroio do Sal (e lá vai a baleia celulitada fazer pose na frente de um muro chapiscado, com uma toalha de banho cheia de fios puxados aparecendo no cantinho...). Péra aí, gente. Pó pará.

Será que vale a pena essa exposição toda? Porque é que essa rede social que o Mark Elliot Zuckerberg criou em 2004 encanta tanta gente? Dar a cara a tapa todo o dia é assim tão necessário? Que mistério é esse que não decifro? Sinto-me diante da esfinge... não, não da esfinge, da pirâmide.

De Maslow.

Um comentário:

Felipe Corá disse...

A cada dia que passa as pessoas buscam o "reconhecimento"...vemos isso direto na web..... o que vale a sua viagem pra europa se ninguém ficar sabendo??...qual a graça de ter o carro do último modelo se ninguém vai ver vc nele??...infelizmente o "ter" está superando o "ser"....

Bjos.. Jéssica