domingo, 20 de fevereiro de 2011

Lutador

Mais um filme que concorre ao Oscar. Uma historinha de lutador. Bléééééé. Quem viu um filme de boxe viu todos. O Campeão, Rocky, Menina de Ouro. Nem queria assistir "O Vencedor" mas... vambora, só para constar. Surpresa! Quando vi já estava envolvido, querendo matar o Christian Bale (aliás acho que ele é mais protagonista do que coadjuvante).

À parte os efeitos das drogas, evidente no filme, o que mais angustia é algo que vemos muito por aí. Um comportamento que igualmente pode ser classificado como vício e que também podem destruir vidas. A auto-sabotagem. Pessoas que tem tudo para dar certo mas permitem que alguém acabe com seus sonhos.

Ficam tão presas à aprovação externa que nem sabem mais o que realmente querem. Normalmente há uma figura de referência, a quem não querem magoar. Ou a quem devem imaginárias explicações. Justificativas. Querem tanto atender às expectativas desse ser superior que acabam fazendo tudo errado.

Usando minha psicologia de almanaque, parece que a coisa funciona assim: quero acertar, mas sei que não vou conseguir ser tão bom quanto fulaninho espera, então vou fazer tudo errado mesmo, porque daí eu não me sinto tão mal por não atender aos anseios perfeccionistas dele. Deu para sacar? Melhor errar porque fez de qualquer jeito, do que tentar fazer certo e isso não ser considerado suficiente para agradar o tal ser supremo.

O carinha do filme é capaz de reconhecer que tem uma mãe opressora, que o irmão não contribui em nada para levá-lo adiante, mas não consegue se libertar disso. Fica preso em um círculo vicioso que só vai se desfazer pela entrada de um novo elemento e por um acontecimento fortuito.

Na novela das sete também tem um claro exemplo disso (sim, não vou negar que estou acompanhando a nova versão de Ti-ti-ti). Um cara rico, lindo e bocó. Preso à barra da saia do pai, figura forte que passa o tempo todo mostrando seu poder e sua superioridade ao filho. O pobre menino rico só consegue fugir dessa influência nefasta depois que toma um paratequieto da amada.

Mas e se nada acontecesse? A grande maioria das pessoas presas a relacionamentos opressivos não consegue nunca abandonar essa dependência. E acabam vivendo sempre à margem, à sombra, sempre se considerando incapazes. Achando que não merecem vencer. São, no fundo, lutadores que entram no ringue preparados para perder. E, por óbvio, acabam se acostumando a levar da vida apenas safanões.

Lutar contra grilhões internos é complicado. Mas libertar-se deles é imensamente compensador. Dá para fazer isso sozinho? Tem que dar, meu caro, tem que dar... ou então se conforme em passar a vida toda lutando para ser alguém que você não é!

Para encerrar, lembrei de uma musiquinha de Ben Harper e Vanessa da Mata que tem tudo a ver:

Tudo o que quer me dar
É demais
É pesado
Não há paz

Tudo o que quer de mim
Irreais
Expectativas
Desleais

Um comentário:

Salvador Celson disse...

Caro Nestor,

Não sei que tipo de comentário pode ser feito diante do seu material,mas o fato é que, na minha modesta opinião baiana, seus textos são envolventes, leves, prazerosos, prendem a atenção e me faz refletir sobre as pequenas coisas com as quais nos deparamos na rotina diária e que normalmente passam despercebidas. Sua escrita contém muita elegãncia, típica de um ser extremamente feminino, além de um humor bem sutil, e por que não dizer, saboroso.
Se ainda tivessemos os jornais e seus colunistas diários, tenho a absoluta certeza que muita gente mão começaria o dia sem você.
Parabéns, obrigado pela provocação e instigação para que eu possa voltar a escrever sob uma outra ótica, largando de vez a minha sorumbática e soturna melancolia.