quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

Pingos

Sete e meia da manhã. Volto da costumeira corrida diária de nove quilômetros no calçadão à beira mar, intercalada por pausas para flexões e abdominais nos últimos três quilômetros. Entro em casa pingando e vou direto para a geladeira. Preciso me hidratar com urgência. O sol, por estas paragens, já está bem alto a essa hora, diferente do que acontece no sul. Meus setenta e oito quilos, espalhados (e digo, sem falsa modéstia, bem espalhados!) em meus cento e setenta e nove centímetros parecem pesar muito mais do que isso quando, finalmente, paro.

A sensação de bem estar começa imediatamente a me invadir. Sou viciado nesses fluxos de endorfina que se seguem às corridas. Só agora dou atenção aos meus cuscos que, felizes com meu retorno, fazem festa aos meus pés (e eles demonstram a mesma sãtisfação com minha volta da padaria, do trabalho, mesmo que eu tenha ficado apenas dois minutos fora. Cachorro é tuuuudo de bom, já dizia o descomprometido comercial da ração Pedigree).

Tiro os tênis úmidos e deixo lá fora, no gramado, no sol. Entro no chuveiro com as roupas completamente molhadas, para o que eu chamo de pré-lavagem. Não posso colocá-las junto com as outras, na máquina de lavar, com tanto suor. Desligo a tomada do chuveiro pois preciso de água fria. Abro o registro, fecho os olhos e... nada. Espio com o rabo do olho, tentando entender se fiz algo errado. Fecho o registro e torno a abrir. Nem um pingo! Do chuveiro não sai nem um agá. Quem dirá dois agás e um ó. Corro pela casa abrindo todas as torneiras e só na do banheiro do meio sai um fio de água que logo se esvai.

Lembro que ontem foi dia de limpeza e que a faxineira lavou a varanda com mangueira, a garagem, a roupa... eu dei banho nos cachorros! Essa louca não notou que a água estava fraca? Ela não pensa? Porque não me avisou que havia algo estranho? P... Acabou com toda a água da caixa (como é libertador ter alguém a quem culpar!). E agora? Tenho que trabalhar, mas cada pelinho meu (e olha que sou quase um urso) está suado. Chego a pensar que se eu passar shampoo, emulsionar um pouco e me secar com a toalha, vai dar a impressão de que tomei banho. É uma alternativa. Porca. Mas uma opção. Que eu descarto. Melhor pedir à vizinha o chuveiro emprestado. Mas a casa está em reformas, posso escutar o quebra-quebra, e não somos assim tão próximos... Jà estou p... da cara. Minhas endorfinas devem ter se afogado no meu suor que não pára de brotar.

Então me ocorre: água mineral. Não acabara de beber? Ainda havia aquela meia garrafa na geladeira e uma, de um litro, na despensa. Grande idéia, Nestor. Sua genialidade é evidente! Foi assim que tomei banho de canequinho, com um litro e meio de água mineral com gás, schincariol - a melhor. Ainda bem que eu desisti da coca!!

Pode parecer inacreditável, mas aconteceu: sobrou água, mesmo depois de eu desperdiçar um pouco enxaguando duas vezes o cabelo. Limpo e cheiroso tomei aqueles últimos goles como se estivesse no deserto. Que delícia que é beber água!

Quando estava saindo de casa a torneira da cozinha começou a fazer uns ruídos estranhos. Como se houvesse pequenas explosões dentro dos canos. Abri devagar e uma cusparada de ar e água começou a sair. A água estava voltando! Com força total. Agora? Sacanagem!

Um comentário:

Anônimo disse...

adorei...
como tudo que é importante em nossa vida: Só damos valor depois que perdemos...Bjos..

Jéssica